terça-feira, 19 de agosto de 2014

Escaladas no Frey (Cerro Catedral)! Dicas e sugestões.

Refúgio Frey, com as agulhas e céu patagônico.

Fala pessoal, tudo bem?

Vamos para mais um relato! Dessa vez é a respeito da viagem que fiz em 2013 para escalar num lugar que ficou super-tradicional para os brazucas que querem experimentar a patagônia.

Sempre tive vontade de conhecer o Frey, já que havia escalado em Arenales, El Chaltén (Aguja de la S) e em Los Gigantes. Na verdade a montanha é o Cerro Catedral e o refúgio chama-se Frey, um refúgio muito bacana, diga-se de passagem.


Sabendo do estilo das vias (puro móvel) com bonitas fendas em um granito levemente alaranjado não pensei duas vezes em 2012 para marcar essa viagem para o início de 2013. Como sempre caberia encontrar um bom parceiro para essa empreitada, sendo que assim convidei o Edson Vandeira que não poderia se reunir comigo de imediato, porém me encontraria após alguns dias. Com isso teria que começar as escaladas com algum parceiro que encontrasse no local.

No meio de janeiro parti em vôo para Buenos Aires e depois Bariloche, onde me hospedei num albergue, fiz as compras no Carrefour e comprei o bilhete do ônibus até o pé do Cerro Catedral. De lá seguiria por caminhada até as proximidades do abrigo, onde montaria meu acampamento. A idéia era permanecer lá por 15-17 dias e estava carregando toda a comida pra isso.

Somando o material de escalada, camping, roupas e comida eu estava com 52kg nas mochilas o que me fez demorar cerca de seis horas pra vencer a caminhada até o refúgio, porém valeu a pena. A caminhada é muito bonita. Começa margeando um lago e depois entra numa área de bosque, sempre alternando leves subidas e terrenos planos. A subida mais forte fica para o final.

Chegando na região do refúgio consegui encontrar um bom local para a minha barraca e logo tratei de curtir um pouco do visual e das bonitas paredes graníticas que lá existem.

Minha barraca.

Como lá frequentam muitos brasileiros acabei dando a sorte de topar com 5 mineiros sangue bom: Breno Rates, Bruno Senna, Leo Santigo, Daniel Carvalho e Carlos Eduardo Benfica. Depois ainda juntariam o Marcus Rufino (Marquinhos) e o Gustavo Pietsch Vianna (Tigrão). Tudo monstro. Até o Vandeira chegar acabei ficando em parceira com esse bando de loucos.

Iniciei as escaladas de modo light, em um quinto grau do lado esquerdo da canaleta que leva ao tradicional "Diedro de Jim", em uma via sem nome. A graduação lá é mais forte do que aqui, em pelo meno um grau inteiro. Isso significa que 5º é nosso 6º, 5+ é nosso 6ºsup, 6a é nosso 7a e assim por diante.

Depois entrei na via "Sifuentes-Weber" (5+). Uma linda via cravada na Aguja Frey, bem de fronte ao refúgio. Essa via possui um granito sólido e a escalada é bem aérea, o que faz dela outra grande clássica e quase uma obrigação a sua escalada.

Passei então para a escalada do "Diedro de Jim" (5+). Essa via possui duas enfiadas, sendo a primeira um diedro e a segunda uma escalada em face, numa bonita fissura frontal. Acabei repetindo esta via duas vezes. Uma com os mineiros e outra depois com o Edson Vandeira.

Para nossa quarta escalada estava reservado a via "Clemenzo", outro 5+, dessa vez na Torre Principal. A Clemenzo, assim como as outra tinha uma graduação mais forte que 5+ e já tinha uma cara mais de via de montanha, precisando de um pouco mais de orientação. Não me recordo o número de enfiadas e só me lembro que chegamos de volta na base da via já pela noite. Nessa escalamos eu, o Breno e o Daniel Carvalho.

Seguimos então para a escalada de outra mega-clássica: a "Del Diedro" (5+), na Aguja M2. Uma única enfiada porém bem aérea e com um granito bem sólido. Outra via delirante. Nessa você já entra bem alto e a via corre virada para o vale da laguna Toncek, o que lhe passa uma idéia grande de altura.

Decidimos então escalar uma via na agulha mais distante até então, no Campanille Esloveno: a Buch-Goin. Outro 5+, em uma escalada muito bonita! Outra clássica no currículo!

Durante todo esse período tivemos um excelente tempo, sem dias perdidos com chuvas e queda de neve. A noite nos reuníamos no refúgio para comer uma pizza e tomar um "bino". Além disso, com o tempo bom, ainda podíamos aproveitar para dar uma mergulhada na laguna Toncek, que ainda que tivesse a agua gelada era muito bom. Tinha também um "slackline" montado sobre a laguna o que era pra gente outro motivo de diversão.

Continuamos escalando. Desta vez eu e o Breno acabamos decidindo escalar a curta via normal da Aguja Abuelo (5+), com um bonito teto no seu final.

Depois disso o Edson Vandeira chegou e assim passei a escalar com o Edson, com exceção da via Del Frente, onde o Breno Rates acompanhou a gente. Seguimos depois para a Normal da Torre Principal (6a) e na descida fizemos a "Misticismo Ateo" (6a), na Aguja "La Lechuza". Eu elegi a fissura/diedro  da Misticismo Ateo a melhor escalada desta viagem. Já estávamos cansados da Normal da Principal e o tempo já estava bem frio. Escala-la e ainda com o Cerro Tronador no visual foi alucinante. Já a via normal da Torre Principal é muito bonita é não é difícil. o crux na verdade é na última enfiada, para chegar no cume em movimentos de placa e todo grampeado.

Refúgio!

O pessoal babando!!

Eu, guiando a via "Del Diedro".

Aguja M2.

O guia.

Breno Rates guiando na "Clemenzo".

Breno Rates e Daniel Carvalho, durante a descida da escalada da via "Clemenzo". Rapel pela Normal.

O pessoal descendo a Torre Principal, depois da escalada da via "Clemenzo".

Breno Rates e Marcus Rufino, na Aguja Frey.

Escalador guiando a última enfiada do "Diedro de Jim". 

Breno Rates guiando a normal da Aguja Abuelo. 

Visual com a Aguja Vieja. No cume o Marcus Rufino e Gustavo Pietsch.


Escalamos então a Via "Del Techo" (6a), na Aguja Abuelo, uma via linda, com dois bonitos tetos a serem vencidos totalmente em móvel. Essa via eu fiz somente com o Vandeira, assim como as duas outras de cima.

Ao descer do cume da Aguja Abuelo ainda passamos próximos da Aguja "Perfil de Mujer" e já aproveitamos para fazer seu cume também, numa via bem fácil, graduada em 4º.

Seguimos então para a escalada da bonita "Aguja Vieja", pela via "Del Frente". Um 5+ como algumas colocações em móvel e outras passadas em placas (grampeadas). Uma via muito bonita de três enfiadas. Logo na sequência seguimos para a via "Fisura de Tras". Um 5º em móvel e com algumas colocações mais delicadas, esta guiada pelo Edson Vandeira.

Para finalizar nosso período escalamos a via Plantitas Denigrantes (6a). Uma única enfiada em um diedro onde se escalar pela direita, sendo que no final se trepa em um bloco de pedra e depois vence-se um pequeno teto. Uma linda via.

Foram ao todo em torno de 15 dias bem aproveitados. 14 vias de graduação moderada, toda em móvel.

De lá descemos e ficamos uns dois dias em Bariloche para depois voar com destino à São Paulo.

Dicas e sugestões:

Para aqueles que querem escalar por lá a melhor época são nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro.
Existem inúmeras companhias aéreas que servem a linha São Paulo-Bariloche e o preço do percurso inteiro (ida-volta) custa na faixa de 1.500 reais, já incluídas as taxas e impostos.

Uma vez em Bariloche fique uma ou duas noites em um albergue para poder comprar comida e outro suprimentos, como gás. A melhor opção ainda era o Carrefour (2013) e creio que ainda seja. Existem inúmeras lojas de equipamentos outdoor, então achar gás ou outro equipamento não é difícil. Equipamentos de escalada na Argentina não são baratos. Se tem como idéia comprar material de escalada lá, não compensa.

Se informe no seu próprio albergue sobre as linhas e horários de ônibus para o Cerro Catedral. Existem inúmeros horários e isso não será problema. A trilha de subida é extremamente bem sinalizada e isso também não será problema.

Uma vez na região do abrigo, não existe custo para acampar. Para ficar no refúgio existe e é bem caro. Se quer poupar dinheiro a opção é acampar e cozinhar. No refúgio existe uma cozinha, que serve pizza e massa. Servem também vinho, cerveja e refrigerantes. Lembrando... tudo bem caro.

Cuidado com o local onde você vai instalar sua barraca. Na prática quanto mais perto do refúgio e da Laguna mais protegido é. Quando vem as nevascas (mesmo no verão) elas trazem muita neve mesmo e como tradição patagônica: vento.

As trilhas de aproximação para as montanhas não são longas, sendo que a mais distante não deve passar de duas ou três horas. A maioria fica na casa de até 2h, incluindo a Torre Principal. Existe a possibilidade de bivac próximo do "Campanille Esloveno" por debaixo de grandes blocos de pedra. O bivac realmente é muito bom.

Um outro item importante é comprar o guia do local, feito pela lenda patagônica Rolando Garibotti. Você poderá comprá-lo na sede do Club Andino Bariloche: http://www.clubandino.org/. Endereço: Calle 20 de Febrero, Nro 30, San Carlos de Bariloche. O guia é bem simples, mas ajuda muito. Tem a capa alaranjada.

Por fim o rack de equipo que serve nas vias é um jogo de camalots C4, do menor até o #4, mais um jogo de stoppers. Se quiser leve peças médias repetidas (camalots C4 #.75, #1, #2) que pode ajudar. Uma corda de 60m, fitas e cordins avulsos e costuras longas (com fitas de 120cm).

Bom... é isso! Caso alguém tenha alguma dúvida basta me contactar!

Grande abraço!

Visual com a Aguja Lechuza à esquerda.

Descendo a "Clemenzo", durante a noite.

Visual do Tronador.

Hora do "bino".

As famosas nuvens lenticulares patagônicas.

Aguja Campanille Esloveno.

Eu, guiando a primeira enfiada do "Diedro de Jim".

Eu, guiando a "Plantitas Denigrantes", setor Plantitas.

Edson Vandeira, guiando a "Fisura de Atras".

Eu, no cume da Torre Principal.

Visual da via "Misticismo Ateo", desde a base.

Eu e o Edson Vandeira, no cume da Aguja Abuelo, depois da escalada da via "Del Techo".

Nossa última noite antes de vir embora.

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