terça-feira, 23 de março de 2010

Caminhada até a "Loma del Piegle Tumbado", El Chaltén.


Fala pessoal,

Mesmo já descansado o tempo nao colabora para nosso retorno à montanha e enquanto isso eu e o Tacio Philip (http://www.tacio.com.br/) procuramos manter a forma de alguma maneira, entao hoje fizemos uma caminhada até a "Loma del Piegle Tumbado", um cume à 1490m de altitude, que dista 9,5km da sede da Administraçaco de Parques Nacionales, na entrada de Chaltén. Foram 5h09min entre caminhada e pequenas paradas para fotos e refeiçao e aproximadamente 19,2 km percorridos, com um desnível acumulado de aproximadamente 1.200 metros.



A vista desde a caminhada é muito bonita e merece destaque. O dia estava aberto, com um pouco de vento e a previsao para os dois proximos dias é de queda de neve na parte alta do parque.

Daqui iremos provavelmente comer uma pizza e tomar uma quilmes, assistir um filme e dormir.

Até a próxima!

segunda-feira, 22 de março de 2010

Cume da Aguja de la "S" pela Rota Austríaca (5+, 55º, 450m), El Chaltén.

  
Cume da Aguja de la "S".

Fala pessoal,

Finalmente uma boa notícia! Dia 19 de março, às 14h50, eu, o Tacio e o Jason Schilling atingimos o cume da Aguja de la "S", pela Rota Austríaca (5+, 55º, 450m) após 7h20min de escalada.

No dia 18 de março, após visualizarmos uma curta, porém possível janela de tempo bom, iniciamos nossa aproximaçao até o bivaque na encosta da Laguna Sucia, onde após 6h30 de caminhada chegamos e pudemos descansar, chegando na caverna por volta das 17h30.

Eu e o Taciao na aproximacao.


Eu, chegando no bivaque. Glaciar Río Blanco ao fundo.

Como eu e o Jason já havíamos subido o glaciar Río Blanco anteriormente e assim já conhecíamos o Pedreiro, decidimos por ficar pela bivaque, cozinhar e nos prepararmos para a escalada. Estávamos um pouco desconfiados que a Aguja de la "S" pudesse estar congelada, fato que havia se concretizado alguns dias antes quando nós fizemos nossa primeira tentativa de escalar a agulha.

Mérito para o Jason que durante a trilha insistiu para que continuássemos, sendo que eu e o Tacio estávamos um pouco desesperançosos, uma vez que nevava e chovia razoavelmente durante nossa aproximaçao, parando somente quando iniciamos a trilha que segue pelo Río Blanco.

No outro dia, acordamos bem cedo, por volta das 04h00, tomamos um café, terminamos de arrumar o que faltava e quando eram 05h20-05h30 estávamos deixando o bivaque, ainda de noite, para subir o pedreiro.

Atingimos o Glaciar e quando eram por volta das 07h20 estávamos na base da grande rampa de neve que sobe à direita da Aguja de la "S", ainda com o sol ensaiando nascer.

 Escalando o primeiro trecho da via. Uma rampa de 55° com 150 metros. Tenso.


Eu, guiando a segunda enfiada de rocha. A mais difícil da via.

Eu, subindo a 3a enfiada de rocha. Quase no col.

A minha experiência em escalada em neve e gelo é miúda e como praticamente nao havia como proteger a subida da rampa pela qualidade da neve, fomos obrigados a "solar" os 150 metros iniciais da via que é uma rampa de neve com 55º de inclinaçao. Para mim foi uma experiência meio estressante, mas vencida após 1h e pouco de subida. Estava somente com uma piqueta de travessia e crampons.

Chegamos no início da parte rochosa e quando eram 09h00 o Jason iniciou a guiada da primeira enfiada, graduada em 4+, sendo que logo após eu e o Tacio iniciávamos a subida. Logo após eu assumi a guiada, graduada no croqui em 5+, sendo que logo após um tempo terminei a guiada, subindo o Jason e o Tacio. Esta segunda enfiada, me pareceu ser mais forte que 5+.

O Tacio, que ainda estava se ambietando com o clima alpino abriu mao de guiar a terceira enfiada para o Jason, sendo que após algum tempo, ele atingia o col, subindo eu o Tacio de segundo. A terceira enfiada é um 4+.

Ainda na 3a enfiada.

Macico do Torre visto do col entre as 3a e 4a enfiadas.


Eu, na centro-esquerda, guiando a quarta e quinta enfiadas, na aresta final.

A vista do col é muito bonita e o dia ajudava. A visao que tínhamos do Cerro Torre, do Egger, Standhardt e Herron era maravilhosa. Dalí até o cume seriam mais 4 enfiadas. Assumi a guiada da 4ª e 5ª enfiadas, graduadas em 4+ ambas, sendo que estiquei em uma só enfiada de uns 65-70m, o que obrigou o Tacio e o Jason a entrarem temporariamente à francesa até que eu atingi a parada e dei segurança para os dois.

Dali até o cume faltavam somente mais duas enfiadas e o tempo ainda era muito bom. O Jason mandou as duas últimas enfiadas e quando eram 14h50 atingíamos o cume. Após algumas fotos, vídeos, refeiçao e outras coisas mais, iniciamos a descida.

Tacio e Jason subindo a quarta e quinta enfiadas.

Eu, subindo a penúltima enfiada. Cume.

O primeiro rapel foi o único que enroscou, sendo que quando desci escalei um trecho bem fácil e desenrosquei a corda e logo o Tacio estava conosco. Dali foram mais dois rapéis até o col e depois mais sete rapéis até o glaciar, os quatro últimos da rampa de gelo, feitos pela direita da mesma.

Chegamos de volta ao glaciar quando eram 19h40 e quando eram 21h00 estávamos atingindo o pedreiro enquanto as últimas gotas de luz caíam do céu. Chegamos no bivaque quando eram quase 22h00 e após um bom macarrao e tang quente, dormimos.

Tacio, no cume! Cerro Torre ao fundo.

Cerro Torre ao fundo, durante o rapel.

Sobre a escalada, é interessante que se esteja guiando ao menos 6º grau móvel com conforto, pois as enfiadas de 5+ podem parecer de 6º devido a falta de costume com a escalada em fissuras e fendas. Elegemos a enfiada mais difícil a segunda.

Para mandar tranquilo a rota inteira é interessante que os participantes e guias tenham um conhecimento de travessia em glaciar, já que é necessário atravessar o glaciar Río Blanco. Estar escalando em gelo/neve pelo menos uns 60º, e estar escalando, como dito, 6º grau de rocha em móvel além de estar com a resistência em dia para suportar a aproximaçao e a escalada de 450 metros.
 Parada patagonica.

No outro dia, levantamos sem pressa por volta das 10h30 e iniciamos a descida por volta das 12h40 atingindo Chaltén por volta das 17h20, onde após um banho, algumas Quilmes dormimos felizes pela excelente escalada.


Na lente, as agulhas!

Hoje é dia 22 de março e o Jason já retornou para os Estados Unidos. Eu o Tacio ainda pensamos em fazer algo se o tempo ajudar. Ficaremos aqui até o dia 27/28. Pensamos em voltar para a Guillaumet, onde fiz anteriormente com o Jason as 8 primeiras enfiadas da Fonrouge-Comesaña, chegando até o "col" da rota Amy. Mas isso depende do tempo. Vamos ver!

Posteriormente coloco as fotos, que estao com o Tacio.

Forte abraço!

quarta-feira, 17 de março de 2010

Mantendo a forma em Chaltén (Vescho Wall)!

Fala pessoal!

Bom, após descansar um pouco, ontem, com a chegada do Tacio, fomos junto com o Jason escalar na Pared de Condores com a finalidade de tentar manter um pouco da forma em escalada em rocha. A Pared de Condores é uma grande parede próxima a Chaltén e ao nosso albergue que possui quase 200 metros de altura e uma via chamada "Estamos ahí", com 170m, graduada em 6a frances e com 4 enfiadas.

Taciao, eu e Jason na Pared de Condores. Expulsos logo depois.

Chegando lá, já equipados e quase começando a escalar fomos obrigados a descer por um funcionária do Hotel "La Quinta" que nos informou ser aquela parede propriedade do Hotel e que todas as escaladas lá eram somente para os clientes do Hotel. Inicialmente estranhamos um pouco, já que tal via estava com Guia de Escaladas de Chaltén, e nós havíamos selecionado a rota no próprio guia que nao trazia qualquer informaçao sobre lá ser propriedade privada ou qualquer coisa parecida.

Com essa proibiçao, procuramos outro lugar para escalar e decidimos ir para a Vescho Wall, que possui enorme quantidade de vias de escalada, indo de 4º grau francês até 8a francês.

Entramos inicialmente em dois 5+, o primeiro chamado "Comida mexicana" e a outra via chamada "Más comida mexicana". Eu e o Tacio guiamos ambas (o Tacio equipou) e o Jason, que nao é muito fa de escalada curta e esportiva guiou a primeira e preferiu ir de top na segunda via.

Posteriormente fomos até a Parede Central da Vescho Wall e entramos na via "Buscando el 6c", graduada em 6b+ francês (7a BR). Entrei primeiro guiando e equipando e o Tacio entrou na sequencia mandando a guiada. O Jason ja havia feito a via alguns dias antes e preferiu ficar na base. A via é bem legal, alternando trechos negativos e verticais, exigindo algum descanso com dois crux, sendo o mais chato proximo ao final da via.

Depois disso fomos jantar, onde juntou-se o Robert, da Áustria, excelente montanhista de altitude, com diversos cumes acima de 6.000, incluindo o Denalí, Aconcagua, entre outros.

Depois de muita cerveja, voltamos pro albergue, onde tomamos mais algumas cervejas e fomos dormir. Continuamos prestando atençao no tempo e nossa atençao se volta para a "Aguja de la S", onde talvez tentemos no dia 20.

Abraços!

terça-feira, 16 de março de 2010

Tentativa na "Aguja de la S".

Aguja de la S. Congelada.

Fala pessoal!

Após uma previsao de uma curta janela de tempo bom aqui em El Chaltén, eu e o Jason Schilling, subimos para tentar a Aguja de la S, pela clássica Rota Austríaca (5+, 55º, 450m). Quando eram 11h da manha do dia 14 iniciamos a aproximacao até a Caverna onde iríamos realizar o bivaque, local próximo ao início do Glaciar "Río Blanco", sendo que chegamos lá após quase 6h30 de caminhada, a segunda parte em terreno íngrime.

Ainda aproximando. No acampamento Río blanco.

Chegando lá, tomamos uma sopa e subimos até o início do glaciar para fazer o reconhecimento do pedreiro e retornamos para dormir. Acordamos por volta das 4h30, tomamos café, e após alguns atrasos, provocados sobretudo pelo frio, cruzamos o glaciar e atingimos a base da rota quando eram 08h20 da manha.

Eu, no glaciar Río Blanco.

A esquerda a Aguja Saint-Exupery e a direita a Aguja Poincenot.

Aguja de la S. Sem condicoes de escalada.

Para nosso azar, ao chegarmos lá visualizamos que as paredes estavam literalmente congeladas, com as fissuras recobertas por gelo e o granito em grandes porcoes também coberto por uma fina camada de gelo. Diante fomos obrigados a desistir da escalada, e com tempo de sobra resolvemos explorar um pouco o glaciar Río Blanco e atingir o col que está a esquerda da Aguja de la S para conseguirmos mirar o Cerro Torre e a Torre Egger. Dito e feito, retornamos ao acampamento e quando eram 10h30 estávamos tomando nosso segundo café da manha. Dormimos um pouco e quando eram por volta das 14h15 estávamos iniciando nossa descida para Chaltén.

Jason quase na base da rota Austríaca, nossa intencao. Aguja da la S.

Chegamos ontem de volta por volta das 19h00 e após um banho, uma pizza e descanso estou um pouco recuperado. Hoje provavelmente tentaremos brincar na Pared de Condores, onde existe uma via de 4 enfiadas, 180m, graduada em 6a frances, somente para tentarmos manter um pouco da forma.

Eu, acordando pra descer pra Chaltén depois de uma "ciesta" no bivaque.

Existe a previsao de uma janela de 3 dias de tempo bom, do dia 18 ao 20 agora. Amanha checaremos a previsao e talvez voltemos a Aguja de la S para tenta-la novamente. Vamos ver.

Meu amigo Tacio chega em Chalten hoje e passa a integrar a "equipe"!

As fotos estao com o Jason e posteriormente atualizo o post com as mesmas.

Atualizacao: As fotos expostas foram tiradas pelo Jason.

Abracos!

quinta-feira, 11 de março de 2010

Escalando a Fonrouge-Comesaña (5+, 6b/A1), Aguja Guillaumet, El Chaltén.

Eu, guiando a sétima enfiada. Fonrouge-Comesaña, Aguja Guillaumet.

Fala pessoal,

Bom, logo após minha última postagem, no dia 7 agora, encontrei um parceiro de escalada, um americano chamado Jason Schilen (acho que o segundo nome dele é esse), que após um primeiro contato e com uma janela de tempo bom aberta a partir do dia 9, resolvemos por tentar escalar a rota Fonrouge-Comesaña (5+, 6b/A1, graduacao francesa), na Agulha Guillaumet.

Iniciamos nossa aproximacao no dia 8 de marco, quando pegamos por volta das 10h00 um remis que nos deixou na ponte que dá acesso a trilha para a Piedra del Fraile. Sendo que após 5 horas de caminhada estávamos chegando em Piedras Negras para nosso bivaque.

A previsao dizia que 9 e 10 seriam dias com tempo bom para escalada. Melhora de pressao e tudo mais, e quando amanheceu no dia 9, o tempo aparentava estar razoavelmente bom. Levantamos por volta das 07h00 e quando eram por volta das 08h00 estávamos comecando nossa caminhada de aproximacao para o início da via.

Aproximando.

Chegamos na base da via por volta das 10h00, no col que da vista aos glaciares marcantes que estao a oeste da Agulha Mermoz e do Fitz Roy.

No col ventava forte.

Após as preparacoes o Jason iniciou a guiada, ja que estava melhor fisicamente e aparentava ser mais forte de escalada. Guiou a primeira e segunda enfiadas, ambas graduadas em 5 grau frances, sendo que na sequencia entrei guiando uma enfiada e meia. O Jason entao tocou guiando outra enfiada e meia.

Visao da base da rota.

As enfiadas sao muito bonitas predominando a escalada em fissuras e fendas. Somente protecoes moveis e as paradas todas em antigos pitons ou moveis. Visual impagável.

A este momento o vento comecava a incomodar mas ainda sim rumávamos para cima. Chegando no crux da via, o Jason assumiu a guiada e em misto de escalada em livre e artificial mandou rapidamente. O crux é um conjunto de fissuras do lado direito de um grande bloco de pedra que segue inicialmente com protecoes moveis e depois passam a existir alguns pitons (uns 4 ou 5) até o topo deste bloco, onde existe uma parada tambem com antigos pitons. Fui na sequencia tirando o primeiro terco da enfiada em livre e o restante em A0. O crux deve estar entre 6sup brasileiro e 7a, mas fazer de mochila sempre joga a graduacao para cima. Enfim, logo estava guiando a bonita travessia para a esquerda, bem aérea e sem protecoes. Ao termino da travessia se sobe por uma fenda (onde tem um piton) até chegar na parada que sao mais dois antigos pitons.

Ainda durante a subida. Vento forte e muito frio. As nuvens já visíveis.

O Jason veio limpando e na sequencia mandou a proxima enfiada, que segue inicialmente estranha e depois entra em um lindo diedro que segue a direita do filo por onde se desenvolve a rota. Entrei de segundo e logo estavamos a somente uma enfiada do filo que separa a face oeste da face leste. A esta altura o vento ja estava bastante forte, dificultando a escalada e comecavamos a vislumbrar que a previsao havia furado. Eram 15h00.

Toquei guiando o que faltava até o filo e quando chegamos onde termina a Rota Amy e Espolon Brenner o vento já queria nos arrastar e sem conseguir ver mais que 5 metros para cima, decidimos sair da montanha. Iniciamos os rapéis, sendo que o primeiro deles, com ventos cortantes, já foi muito ruim. O Jason montou o rapel em um cordelete azul que lá estava, e mesmo desconfiado, devido a celeridade para descer, topei montar o rapel nele.

Iniciamos o segundo rapel, ao mesmo estilo do primeiro, em cordeletes velhos que lá estavam, eu muito desconfiado. O Jason foi primeiro, e quando ele chegou montei o rapel e quando estava quase chegando na parada, despenquei. A corda correu no freio e cai, livremente, por volta de 6 metros, batendo inicialmente as costas na parede, virando e batendo as costelas e o cotovelo direito.

Ao certo, parei logo apos ter passado pelo Jason, uns 2 metros abaixo, encaixado no diedro pouca coisa da parada. Estasiado pela queda e tentando contabilizar os danos e do porque de estar vivo ja que o diedro era inclinado (inclinacao de 3/4 grau) e dele partiria para o infinito. Sentia muita dor nas costelas do lado esquerdo e muita dor no cotovelo que jorrava sangue. Abaixo, 600 metros de verticalidade.

Enquanto isso o vento nos cercava e comecava a chegar a neve que com a velocidade incrível do vento, quando batia no rosto parecia como pedregulhos. O Jason entao perguntou se estava bem, disse que sim, que poderiamos continuar a descer, o mais rapido possivel e que acreditava estar com algumas costelas quebradas.

Como estavamos descendo com uma só corda, devido ao vento teríamos que fazer o rapel-tensao da travessia. Ele montou o rapel e desceu e fui na sequencia. A esta hora estava preocupado com minhas maos já que nao havia conseguido até aquele momento colocar minhas luvas.

Pouco depois conseguir colocar as luvas e fomos descendo e descendo. Nove (9) rapéis até chegar ao col, atingido entre 22h00 e 23h00. Chegando lá, disse ao Jason, que insistia em praticamente nao reforcar os velhos cordins e fitas que estavam nos pitons, que eu havia abandonado 3 mosquetoes meus, 3 cordins e uma fita, reforcando sempre os rapéis logo que ele iniciava a descida.

Depois do col, vira-se para uma "subface" mais protegida do vento e com dois rapéis e alguns destrepa-pedra estávamos chegando para a descida por caminhada. Dali seguimos descendo por aquele monte de pedra amontada até atingir os neveiros. Caminhando eternamente, atingimos nosso bivaque quando eram por volta das 01h00, que estava destruido pela tempestade. O fly da minha barraca, estava arrancado, meu saco de dormir e isolante, molhados.

Jantamos e dormimos assim mesmo. Ontem, ao levantar desmontamos tudo e continuamos a descer pela trilha rumo a Chalten. Atestei o desaparecimento da minha camera fotografica, novinha. Mais 4 horas de caminhada. Conseguimos uma carona e quando eram por volta das 19h00 estava chegando no meu albergue. Dali fui para o Hospital, onde o médico atestou que eu nao estava com as costelas quebradas, somente uma forte concussao na regiao, diversas escoriacoes pelo corpo, incluindo uma forte concussao no cotovelo e uma queimadura de frio no dedao da mao direita.

Eu acreditava inicialmente que minha queda havia se dado por conta do rompimento dos velhos cordins que nos serviam como base do rapel. Mas posteriormente o Jason me disse que após ele terminar o rapel, havia desmanchado o nó que unia as pontas da corda e comecou a recupera-la quando parou por algum motivo. Foi neste instante que montei meu freio e back-up e iniciei a descida. Naquele tempo horrível eu nem percebi que ele havia recuperado uma parte da corda já que estava fazendo alguma outra coisa.

O Jason, após a escalada.

Logo após o início do meu rapel, ele disse que gritou pedindo que eu parasse mas que eu nao escutava. E com isso fui descendo. Quando a ponta menor chegou em mim e vazou do freio, despenquei. Creio que o fato de ainda estar com a outra ponta, desacelerou um pouco minha queda (pois a corda tem que correr inteira até o ponto de partida do rapel e com o atrito da rocha, desacelera pouca coisa) e que o fator sorte ou Deus me salvou. Ainda nao sei ao certo. Só sei que, como disse o Alberto, do meu albergue, dia 9 de marco é minha segunda data de nascimento agora. Quando caí, só consegui gritar "queda" e pensar: morri.

Mas agora já está tudo bem, a nao ser pela minha camera. As fotos desta escalada, tenho somente as da camera do Jason e assim que pegar coloco aqui neste post. Preciso me recuperar uns dias e assim que possível pretendo atacar a Aguja de la S. Ao Jason, excelente escalador, faltou um pouco de procedimento, pois até agora nao consegui entender o porque que ele estava querendo recuperar a corda. Queria rapelar sozinho naquelas condicoes? E se minha corda enrosca? Ele desce com a dele e eu morro na parede, ou a minha enrosca e ele desce dois rapéis e a dele enrosca também e morrem os dois na parede. Nestas condicoes creio os escaladores devem descer sempre juntos, tendo assim maior chance de sobrevivencia. Nossas cordas enroscaram durante o rapel tres vezes, eu tive que escalar uma vez para desenroscar e o Jason duas vezes. Tudo isso após minha queda no segundo rapel.

Retornando de carona pra Chatén. Costelas quase quebradas e diversos hematomas e cortes.

Enfim, é isso. As fotos, assim que pegar com o Jason coloco no post. Sobre a escalada, muito bonita. O clima é cruel e precisa ser pensado muito bem quando subir para as agulhas. Creio que na descida, com os ventos (que chuto entre 50-70 km/h) e a neve, tivemos uma sensacao térmica entre vinte-trinta graus negativos.

Atualizacao: Todas as fotos já colocadas foram tiradas pelo Jason.

Croqui da via. Extraído de climbinginpatagonia.freeservers.com.

Abracos!

sábado, 6 de março de 2010

Previsao boa para semana que vem em Chalten.

Fala pessoal,

Bom, depois de voltar de Piedras Negras, descansei no dia seguinte e hoje fiz uma caminhada curta até o cume da Pared de Condores, que é bem próxima do meu albergue.

Continuo tentando encontrar um parceiro de escalada mas está bastante dificíl. Existe uma previsao de uma janela de dois dias de tempo bom, entre os dias 9 e 11 de marco, ainda a confirmar.

Vamos ver se consigo um parceiro amanha. Hoje tentei dar uma averiguada com os guias locais, mas o preco é absurdo. Para turista mesmo. A escalada da Aguja Guillaumet cobra-se a bagatela de 1.400 dólares. O mesmo para a Aguja de la S. E ainda nao permitem que voce guie, tendo que se contentar como participante. Ou seja, como já disse, bem pra turista mesmo (que tipo de turista escala a Guillaumet?).

O albergue que estou é bom, mas com o passar dos dias terei que ir pra um acampamento pago pois tá ficando cara a coisa.

Vamos ver...

Abracos!

quinta-feira, 4 de março de 2010

Janela de tempo bom em Chalten e primeiro perrengue.

  Chegando em El Chalten. No ônibus, com vista para o Cerro Torre.

Fala pessoal,

Viajei para a Argentina dia 01 de março e dia 02 de março cheguei em Chalten a noite. Para minha surpresa, dia 2 seria o primeiro de uma janela de 3 dias de tempo bom que haveria. Diante disso, tratei de dia 03 tentar arranjar um parceiro de escalada para o dia 04, hoje, sendo que sem sucesso toquei para "Piedra del Fraile" no final da tarde de ontem para tentar subir até "Piedras Negras", sendo que quando eram 16h20 estava iniciando a caminhada para a Piedra del Fraile e quando eram 18h30 estava começando a caminhada para Piedras Negras.

 Chegando em Chalten.

Cordón do Torre e Fitz Roy.

Pesado, com uma cargueira com mais 25kg tranquilo (erro na estratégia - muita comida, barraca desnecessária e algumas outras coisas inúteis) toquei para cima e sem conhecer o caminho muito bem acabei dando uma desviada para a esquerda, e com o cair da noite e sem saber o local exato de Piedras Negras resolvi quando eram umas 21h50 procurar um local para um bivaque.

Bivaquei isolado, meio que no perrengue uma vez que nao sabia muito bem onde estava, o clima de Chalten é sempre traiçoeiro. Para a minha sorte achei um local mais ou menos protegido, inclinado, e que deu para se instalar.

 Ponte no início da trilha para Piedra del Fraile.

 Campephilus magellanicus (Pica Pau Magelânico). Trilha para ªPiedra del Fraile".


 Bivacando em LINS (Local Incerto e Nao Sabido). Foto escura, para ver melhor olhe por cima no monitor.

Apesar da noite mal dormida (o máximo que consegui dormir sem acordar foi 2hs), rolou tudo bem, e quando eram 07h00 acordei, montei as mochilas, as escondi e toquei para cima, sendo que para a minha surpresa, Piedras Negras estava muito perto, algo em torno de 5 minutos de onde bivaquei. Mas a noite nao consegui encontrar, ja que nao tinha referencias e ja nao mais sabia aquela altura se Piedras Negras estava abaixo, acima, o que fosse! A noite devo ter pego algo entre 0-5ºC.

Chegando la, uma dupla ja havia subido para as paredes, um casal argentino saía para a Mermoz e um trio (dois argentinos e uma brasileira durmiam). Diante disso resolvi descer para Chalten. Para isso foi uma caminhada das 08h50 até 13h30 até a ponte do Rio Electrico, onde uma van passaria.

Dali voltei para Chalten, onde tomei um banho, almocei e agora estou escrevendo no blog.

Uma janela de bom tempo perdida. Pelo menos pude conhecer a trilha de acesso a Piedras Negras e as linhas da vias "Espolon Brenner" e "Fonrouge-Comesaña" que prentendo até o término desta viagem mandar ao menos uma delas. As paredes impressionam pela clima alpino, mas plenamente exercíveis as vias.

 Linha das vias pretendidas, Aguja Guillaumet.

Vamos ver. Agora a noite irei a "Cerveceria" ver se consigo fechar uma parceria para um futuro próximo. Atrás do meu albergue, Aylen Ayke, existe uma parede imensa com diversas vias de escalada que parecem ser bastante interessantes, principalmente para treinar e ver como está a cordada.

Vale a pena dizer que para ir até a ponte do Rio Electrico foram 50 pesos de lotaçao (o mesmo na volta) mais exorbitantes 40 pesos de taxa para passar pela propriedade particular que dá acesso a trilha de subida à Piedras Negras.

Maciço do Fitz Roy visto a partir de Piedras Negras. Os dois pontos do lado esquerdo embaixo, sao duas pessoas.


Visao da trilha para Piedras Negras do Paso Marconi e do campo de gelo continental sul.

Caso nao consiga escalar vou tentar conhecer a trilha que dá acesso a "Aguja de la S" a partir da Laguna Sucia. Vamos ver.

Forte abraço!