sábado, 8 de agosto de 2009

Domingos Giobbi (D5 6º A2+)!


Fala pessoal!

Bom, vou escrever aqui, até mesmo antes da postagem sobre Itatiaia, porquê ainda estou sem as fotos da viagem pra lá, sobre a escalada que eu e o Tacio Philip fizemos da rota "Domingos Giobbi" (D5 6º A2+) na Pedra do Baú, em São Bento do Sapucaí, SP.

Esta via de bigwall foi consquistada em agosto de 1989 pelo Luiz Makoto Ishibe e Hugo Armelin e sintetiza de certa maneira a iniciação de muitos escaladores pelos meandros da escalada de bigwall. Claro que existem escaladores que conseguem escala-lá em um dia, mas estes são às exceções das exceções. De qualquer maneira, para nós não exisitiria melhor momento que escalá-la em Agosto de 2009, momento no qual ela completa 20 anos de conquista!

A idéia original minha e do Tácio seria passar uns 5 ou 6 dias em São Bento para entrar na "Domingos Giobbi" e na via "Distraídos Venceremos", este último, outro bigwall paulista cotado em D5 VI A3.

De posse dos equipamentos necessários para repetir a "Domingos", partimos para São Bento no dia 3 de agosto, saindo de sampa por volta das 16h30, sendo que chegamos por lá por volta das 20h00 devido ao trânsito que acabamos pegando na saída de casa.

Chegando lá, fomos tomar um lanche e logo fomos para o abrigo do Eliseu Frechou, onde pegamos alguns betas da escalada, e também emprestado um hook antigo (que o Eliseu disse poder ser importante devido ao mal estado dos furos de cliff além de um martelo e batedor com broca para a necessidade de refazer algum furo).

Eu, próximo do local do rapel, com a Pedra do Baú ao fundo.


Nossos equipos na noite anterior à escalada.


Preparamos os haulbags e fomos dormir.

Vale lembrar que tanto eu quanto o Tacio nunca havíamos feito vias D5, com pernoite em parede, e para a gente aquilo era uma grande novidade.

No dia seguinte, acordamos por volta das 05h30 tomamos café, pegamos as coisas e fomos para o Baú sendo que logo após vencermos a trilha e subirmos a escada do col estávamos na base do rapel (duas chapas Bonier alguns metros antes do início da via "Learning to Fly"). Observação para o fato que quase que consegui jogar minha corda fora quando fui lança-la para uma parte mais alta do col, sendo que joguei tão forte que ela vazou e caiu do outro lado, na trilha que está desbarrancando no col, virada pra face sul.

Eu, no primeiro rapel.

Iniciamos o rapel, que na verdade são dois (o primeiro curto e o segundo longo, com aprox. 50m) e logo estávamos no meio da trilha da parede da face norte indo em direção à parede laranja. Mais alguns minutos e por volta das 09h00 nós estávamos na base da primeira enfiada da Domingos, que segue em livre pela direita de um bloco de pedra ou em artificial pela esquerda do bloco.

Como o Tacio escala melhor e a mais tempo do que eu perguntei se ele iria guiar a primeira enfiada e ele logo respondeu que gostaria, sendo assim, saiu guiando e logo estava na parada.
A primeira enfiada é um 6º que começa em face e depois segue em uma fenda à direita do bloco de pedra, sendo que não possui uma única chapa, mas contendo boas colocações para peças móveis. Fui na sequência sem maiores dificuldades e logo estávamos os dois na primeira parada da via. Essa primeira enfiada é muito bonita e o trecho mais estranho é a saída em face.
Puxamos os bags e logo sugeri ao Tacio que guiasse a segunda enfiada, ja que aquela era a enfiada que o Eliseu disse que poderíamos pegar buraco de cliff em más condições e como nunca havía batido um matelo na rocha fiquei um pouco inseguro.

O Tacio, mandando a 1ª enfiada (6º, em móvel).


O Tacio, preparando-se para entrar na 2ª enfiada.


O Tacio, na 2ª enfiada, já mais acima.


Assim, mais um vez seguiu o Tacio na segunda enfiada, que sai bem à esquerda da parada em um início em livre com chapas e depois começa a sequência do artificial, cotado em A2. O Tacio mandou muito bem e por volta das 13-14h ele já havia terminado a segunda enfiada e lá ia eu começar a limpar.

Jumareei e limpei rapidamente a enfiada, e o Tacio sugeriu que entrássemos na terceira enfiada para adiantar (nossa meta para o primeira dia era somente as duas primeiras enfiadas) e lá fui eu mandar a terceira enfiada da via.

Visual com os bags em primeira plano.

A terceira enfiada segue uma linha na diagonal superior esquerda, e possui alguns trechos um pouco mais expostos e frágeis, fazendo que ela seja cotada em A2+/A3, sendo que quando eram por volta das 17h00 tinha conseguido mandar metade dessa enfiada, chegando na segunda chapa. Dali rapelei e descemos os dois para o platô da P1 para comer e dormir e deixamos as cordas fixas na segunda enfiada e até aonde eu tinha ido da 3ª enfiada.

Como nunca havíamos dormido na parede aquilo pra gente era novidade. Acabamos que até COZINHAMOS na parede, com fogareiro e tudo, o que deu um alento, já que estávamos com fome, apesar do peso extra!

Dormimos muito bem, sendo o tempo ajudou muito. No outro dia, levantamos tarde (por volta das 06h30 e até tomarmos café, jumarearmos e içarmos os sacos retornei a guiada quando eram quase 09h00) e com isso perdemos um tempo precioso, que nos faria falta depois.

Amanhecer do 2º dia de escalada.


Cade São Bento?

Continuei a guiada da terceira enfiada e após uma queda (o friend que me apoiava escapou e que por isso acabou por estourar o primeiro elo da minha daisy chain que ainda estava na proteção anterior) consegui terminar aquele trecho. A terceira enfiada, após a segunda chapa sobe reto alguns poucos metros e depois começa um horizontal em cliff com quatro buracos e depois com três colocações de friends (uma razoável e duas ruins) sendo que então sobe em mais um buraco de cliff, uma micronut, um friend bom, mais um buraco de cliff e então a parada.


Eu, e meu local de bivaque.


Acordando no outro dia, por volta das 06h30.

Rebocamos os bags e o Tacio veio jumareando e limpando. Quando eram por volta das 12-13h eu já estava guiando a 4ª enfiada, cotada em A2, onde ela faz uma travessia para a esquerda e depois quando chega em um chapeleta ela desce. Nesse momento nossa escalada terminou! Pois não consegui encontrar o caminho certo, pendulava, descia, jumareava de volta e nada! Só conseguia visualizar uma chapeleta bem na esquerda (que na verdade era um piton) mas nada de conseguir. Com isso o tempo foi passando, foi passando e comecei a ficar preocupado com o horário; e o Tácio também. Sugeri a ele, que tentasse achar o caminho já que estava mais descansado mentalmente e fisicamente e ele assim assumiu a segunda metade da guiada da 4ª enfiada. Ainda que ele não tenha achado o caminho original e ideal, o Tacio, de maneira titânica, conseguiu fazer a travessia para a esquerda, e quando eram por volta das 17h30 ele estava montando uma parada em móvel para escaparmos pela rota de fuga da "Anormal do Baú".


Rango da noite (Miojo, fatia de salame e provolone).

Após dois rapéis meus, um da parada para debaixo da chapa de descida da via (jumareei até a chapa) e outro dessa mesma chapa para a fenda que separa a parede laranja da parte mais positiva das vias Normal e Anormal do Baú, consegui jumarear até o Tácio, enquanto ele rebocava os bags. Dali fomos para a parada da Anormal, onde deu um trabalho imenso para subir os bags pela positividade da parede.

Chegando lá, descansamos bastante, tomamos água, comemos e não sei ao certo quanto tempo ficamos, pois além de tudo isso, ainda arrumamos os bags para descer.

Tínhamos duas possibilidades de descida. O rapel pela normal ou a trilha+escada da face sul.
Como não queríamos rapelar mais, ainda mais com aqueles haulbags (naquela hora já triplamente amaldiçoados) nas costas subimos a trilha e descemos a escada.

Visual.

Caímos na trilha e quando eram 00h30 (!!) estávamos chegando no carro, esgotados!
Fomos pra São Bento, e chegando lá, após um banho refrescante, uma boa janta e mais águas pudemos então dormir em paz, quando eram quase 04h00 da manhã.

Levantamos por volta do meio dia, arrumamos as coisas, almoçamos no Taipa, tomamos um Açaí pra revigorar e quando era no finalzinho da tarde, estávamos saindo de São Bento com destino a sampa. Mandar a Distraídos? Uma próxima vez talvez!

Jumareando a 2ª enfiada.

Este tipo de escalada nos trás experiência, pois se fossêmos repetí-la hoje teríamos feito de outra maneira a via. Primeiro e mais importante, diminuir ao máximo o peso a levar. Realmente dois dias, não necessitam de cozinha (só aí vc tira um fogareiro, cilindro de combustível, panelas e outros), levaria somente o estritamente necessário em termos de equipamento de escalada, diferente do que a gente fez ao levar diversos itens que nem sequer foram utilizados.

Compraria um saco de dormir mais compacto (o meu é enorme!!) e mais importante:
- começaria a ter escalado mais cedo. No primeiro dia, começamos a escalar por volta das 09h00. Se começassemos a escalar às 07h00 teria terminado a terceira enfiada ainda de dia no primeira dia e ganhado muito tempo no segundo. Já no 2º dia, começamos a jumarear as cordas quase no mesmo horário, sendo que se tivéssemos levantado umas 05h30 e tomado um rápido café teríamos ganho pelo menos outras duas horas. Talvez esta tenha sido o maior diferencial entre mandar a via completa (6 enfiadas) ou em sua forma reduzida (até a rota de escape - 4 enfiadas).

Eu, trabalhando a 3ª enfiada (A2+/A3).

De novo, já próximo do final.

Virada difícil.

De qualquer maneira, valeu muito a experiência e saí da parede com a sensação de dever cumprido e sentindo estar preparado para vias do mesmo gênero ou até mais difíceis. Vale dizer a parceria do Tácio e sua experiência foram fundamentais para que tudo corresse bem.

Para mandar a via, são necessários os seguintes equipos:
- 1 set de friends/camalots (da menor peça até a #4);
- 1 set de microfriends ou TCUs;
- 1 set de nuts de cabo;
- 1 set de micronuts;
- 1 par de jumares e 2 pares de estribos para cada escalador;
- 1 Fifi hook e 2 Daisy Chains para cada escalador;
- 1 jogo de hooks diversos (2 talon, 2 cliffhanger e 2 grapling bastam);
- 2 ou 3 cordas (depende da quantidade de escaladores);
- Levar martelo e batedor com broca para a eventualidade de arrumar buraco de cliff (rocha muito podre);
- Fitas e mosquetões avulsos;
- 1 polia;
- Se for dormir, um saco de dormir/bivaque e isolante;
- Água, de 3-4 litros por pessoa por dia (mas é bem pessoal);
- 1 haulbag de 70l deve dar, se forem dois escaladores já levando o equipo no corpo, senão dois haulbags;
e mais o de praxe que não preciso ficar falando aqui... headlamp, anoraque, etc...

Com certeza foi a escalada mais marcante que tive até agora. Claro, que a gente têm sempre que procurar sempre uma escalada que seja mais marcante que a antecessora, mas essa, foi com certeza, especial!

É isso aí! Até a próxima!

2 comentários:

Paulo Roberto - Parofes disse...

Grande escalada, belíssimas fotos!
Qualquer dia quando crescer faço isso he he he
Abraços!

tacio philip disse...

Fala Vitão! Realmente foi uma grande escalada!!! Em breve estaremos por outras paredes por aí!!!
Abs!