terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Escalando em Yosemite! (Parte 1 - escaladas em livre)

Começando a escalada da "Doggie Deviations", no camp4 wall. Yosemite NP. Foto por Fábio Kanashiro.

Fala aí, pessoal!

Demorei demais para escrever o relato de Yosemite, mas chegou! A verdade é que cada vez mais estou ficando sem tempo para escrever tudo. Infelizmente tudo isso que tem aqui é feito por mim sem ajuda de ninguém e isso custa muito se você tem sua profissão e vive praticando esporte.

Mas vamos lá! :)

Logo depois que escalamos em Arches (veja o relato desta viagem aqui) partimos então para San Francisco, onde então iríamos encontrar nosso parça e terceiro membro da expedição, o Fábio Kanashiro que estaria voando diretamente do Brasil pra lá.

Neste momento eu o Wellington nos separamos, visto que eu iria voar de Moab para Salt Lake e depois diretamente para San Francisco e o Wellington ainda faria uma escala em Los Angeles. Cheguei um pouco antes que ele em San Francisco e como a diferença entre os vôos não era grande fiquei pelo aeroporto mesmo lhe esperando. De lá seguimos para o nosso albergue que ficava no centro da cidade e onde iríamos encontrar o Fábio. O nosso albergue foi o Adelaide Hostel, muito bom e que recomendamos. O preço à época foi justo e também muito bem localizado. Eis o link: http://www.adelaidehostel.com/. Para ir do aeroporto até o seu hostel ou hotel existe um serviço de vans que faz esse serviço e particularmente não achei caro, visto que o aeroporto não fica tão perto. Vale a pena a comodidade, principalmente pra nós, que estávamos abarrotados de mochilas e equipamentos.

No dia seguinte e já com o Fábio saímos para fazer as compras de escalada e alugar o carro. Alugamos um carro daqueles mais baratos mesmo e próximo de onde estávamos tinha uma loja REI. Fomos até lá e compramos praticamente tudo o que queríamos e o que não achamos decidimos por comprar diretamente em Yosemite, visto que lá tem uma loja muito bem servida de equipamentos de escalada. Neste dia acertamos os últimos detalhes e no dia seguinte partimos para o vale, sem antes deixar de passar na Golden Gate, para tirar umas fotos! Claro! 

Já de carro alugado, na frente do nosso albergue em San Francisco.

Conhecendo um pouco de San Francisco. 

 Na famosa Golden Gate.

Pau de selfie.

De San Francisco até a entrada do parque, na direção do vale de Yosemite são necessárias quatro horas de estrada, estrada de boa qualidade então é só curtição. No começo é uma estrada plana e conforme vai se aproximando de Sierra Nevada o negócio começa a ficar bonito!

Chegamos no parque já tarde e como esperávamos não tinha claro vaga para a gente no campo 4, que realmente é o ponto mais estratégico no vale para aqueles que desejam escalar (e que onde se concentram a maioria esmagadora dos escaladores). Neste primeiro dia fomos para um acampamento secundário onde só dormimos para que no dia seguinte pudéssemos ir para a fila do camp4, que já começa a se formar bem cedo (geralmente por volta das 06h). 

Aqui vale dizer que durante a alta temporada no parque é imprescindível chegar cedo, porque as vagas no camp4 são limitadas ao número de pessoas que deixam o acampamento diariamente e esse número não é grande, algo que não passa geralmente de 20 pessoas. Além disso o número máximo de dias de permanência no campo 4 é quinze dias durante a alta temporada e trinta dias fora de temporada. Passado esse período é necessário levantar acampamento e voltar para a fila.

Bom, conseguimos pegar nosso espaço no camp4 e já aproveitamos para dar uma escalada em livre. Decidimos escalar um pouco em livre para "sentir" a pedra (granito, não mais o arenito de Utah) e ver como era a graduação do local, famosa por ser forte. Fomos então para o setor chamado "camp4 wall" e a via escolhida foi a Doggie Deviations, um 5.9 de Jim Bridwell. O Fábio entrou primeiro e mandou a via, com certo sofrimento. Na sequência entrei eu também guiando, que sofri o mesmo mas conseguindo mandar, seguindo o Wellington, porém de top. Para a gente aquilo foi a confirmação do forte grau de Yosemite. Na verdade nos explicaram mais tarde que muitas das vias conquistadas até a década de 60 apresentam graduação de 5.9, mas são mais fortes que isso. O que ocorre é que naquele tempo simplesmente não existia graduação superior ao 5.9, então tudo que era escalado de mais forte era encaixado nesta graduação ao invés de se propor a criação de uma nova graduação (que mais tarde seria o 5.10). Voltamos então já pela noite para o acampamento (que tínhamos montado pela manhã) para dormir, uma vez que no dia seguinte nosso plano era fazer mais um teste de escalada em livre: a via Royal Arches, com 16 enfiadas.

Na base da "Doggie Deviations", com o Fábio se preparando para entrar.

Aqui vale a pena alguns comentários sobre o camp4 e suas regras. Bom, primeiro que as regras são rígidas, como em qualquer país de primeiro mundo e que é preciso que se preste uma atenção especial à comida, pois a vida animal lá é bastante presente, com esquilos, ratos, guaxinins e claro, os famosos ursos. É imprescindível que se deixe a comida estocada nas "bear boxes", pois não só os ursos mas como estes outros animais atacam a comida pra valer. Sobre os ursos o problema é que eles atacam a comida e ainda oferecem risco às pessoas e a política do parque é que quando um urso que entrou em determinada região com presença humana é identificado, ele é abatido, pois no entendimento do parque se ele fez isso, tudo indica que ele perdeu o medo de nós (humanos) e torna-se um risco em potencial. Tivemos problemas também com ratos que conseguiam entrar nas "bear boxes" por um buraco inferior e fizeram um pequeno estrago em nossas refeições e na primeira noite tivemos que expulsar uns guaxinins de cima de umas mochilas de uns ingleses que iriam escalar no dia seguinte e deixaram elas prontas, inclusive com comida. Resultado que eles quase perderam as mochilas.

Bem... voltando...

No dia seguinte levantamos bem cedo e fomos para o setor de Royal Arches escalar a via que dá nome ao setor, uma via com 16 enfiadas e perto de 500 metros de extensão, praticamente toda em livre (com exceção de um pequeno trecho que costumeiramente é escalado em "french free" - em pêndulo). Apresenta uma graduação de 5.7 A0. Ao chegarmos próximos da base da via escutamos algumas vozes da terra natal e que já estavam na parede. Acabamos não os encontrando na escalada, nem na descida, porém depois descobrimos que eram alguns capixabas que estavam se aventurando por lá também.

Apesar de termos chegado cedo na base da via acabamos ficando com muita dúvida sobre onde seria o real início da mesma e assim acabamos chutando que seria por uma canaleta, numa escalada mista de chaminé e placa. Quando o Fábio terminou de guiar esta enfiada ele acabou ficando ainda mais em dúvida sobre a sequência da via e acabou descendo. Batemos ainda mais cabeça até que decidimos voltar pela mesma canaleta e tocar pra cima. Desta vez comigo na ponta da corda segui pela canaleta e depois desbravei a via em direção à direita até chegar em outro trecho onde a escalada voltar a subir reto. Fomos tocando bem rápido a via em três, comigo e com o Fábio alternando a guiada e o Wellington nos seguindo. Mesmo em três quase alcançamos uma dupla de americanos que estavam diretamente em nossa frente e isso me animou. Sinceramente não me recordo o tempo que fizemos a escalada, mas chegamos ao final e rapelamos ainda de dia.

A via é praticamente toda em móvel, com boa parte dos trechos seguindo diedros, com alguns trechos de escalada em fissuras frontais. Tudo bem tranquilo de proteger.

Fábio mandando ver na Royal Arches, Yosemite NP.

Visual do vale de yosemite, desde a Royal Arches.

Eu, já rapelando a via.

Bom, era isso. Apesar de ser somente dois dias de escaladas em livre já era hora de partir para os nossos objetivos maiores que seriam a Leaning Tower (West Face) e depois o El Captain (relato ainda não disponível), por uma via que até aqui ainda não tínhamos decidido. Valeu a todos!!

Grande abraço!!

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