quarta-feira, 22 de abril de 2015

Resultado do Censo Brasileiro de Montanhismo e Escalada 2015!


Caros amigos,

Depois da coleta de dados realizada nos meses de fevereiro e começo de março trago a todos os resultados obtidos.

Conforme explicado desde o começo, a idéia foi manter as mesmas perguntas feitas pelo Davi Marski, em 2009, de tal maneira que pudéssemos ter uma base comparativa passados seis anos.

Espero que o Censo possa ser útil! Foram trazidas algumas informações do censo do Davi Marski, porém para a visualização completa do censo de 2009 é necessário acessar o link contido no final desta publicação.

Espero que gostem! Bom proveito!

Data de coleta:

13/02/2015 a 13/03/2015

Número de participantes:

1066

Idade:

Menor idade: 15 anos
Maior idade: 76 anos
Idade mais presente: 30 anos (67 respostas)

Sexo:



Em 2009 o sexo estava assim distribuído:

Clip47

Com isso podemos dizer que houve um ligeiro aumento no número de mulheres na escalada (de 18% para 21,7%).

As três cidades mais presentes:

Rio de Janeiro, com 241 formulários
São Paulo, com 137 formulários
Curitiba, com 84 formulários

A divisão pelos Estados:


Em 2009 os escaladores estava assim distribuídos, quanto aos seus Estados:

Clip48

De fato em 2009 o censo apresentou alguma discrepância, pois é notório a grande quantidade de escaladores e montanhistas no RJ. Em 2009 o censo indicava 21%, já em 2015 o censo indica 28%, colocando o RJ como o estado mais presente, seguido de SP com 22,7% (contra irreais 31%, em 2009).

Devemos observar ainda que em 2009 o estado mineiro ficou em terceiro, com 13% e o PR em quarto com 10%. Já em 2015 Minas Gerais permaneceu muito próximo dos números anteriores, com ligeiro acréscimo (14,1%), enquanto que o PR avançou 3,9% quase alcançando MG, ficando com 13,9%.

Estes quatro estados hoje concentram juntos 78,7% dos escaladores do país. Em 2009 concentravam 75%. Isso nos leva a crer que o montanhismo não está encontrando difusão.

Os demais estados mantiveram-se ligeiramente estáveis: RS, com 6,4%, DF, com queda para 2,6% e SC, com queda para 2,8%.

Os escaladores viajam?

Com relação a este tema tivemos os seguintes números:
Em 2009 o quadro era:

Clip51



Ou seja, o quadro manteve-se quando tratando-se de cenário doméstico. Já em cenário internacional:



Em 2009:

Clip52

Houve uma queda significativa, de 64% para 57,8%. Isso indica que os escaladores brasileiros estão atentos para as escaladas internacionais. Muito pode se especular sobre a origem desta mudança, mas a verdade é que os escaladores/montanhistas brasileiros estão viajando mais para fora do país.

Formação Técnica:

Foi perguntado se os escaladores já fizeram algum curso de escalada e a resposta foi:


Já em 2009 os números foram:
Clip53

Isso indica que a preocupação com a segurança continua firme, subindo de 69% os escaladores que fizeram algum tipo de curso, para os 72,4%. Pessoalmente considero este número baixo, ainda. Mas passados seis anos foi possível ver algum avanço.

Nível cultural:

Dentro da pesquisa do Marski ele fez alguns estudos sobre o nível cultural dos escaladores. Vamos ver o que mudou. No censo deste ano, tivemos:

Dados de 2009:

Clip54Clip55

É possível observar pouca alteração. Por exemplo: em 2009 7% disseram não ter lido nenhum livro. Agora esse número é 6,4%. Certa melhora. Por outro lado 28% que inicialmente disseram ter lido mais de dez livros agora são 28,4%. Ou seja, estabilização.

Quanto aos livros que possui, houve uma ligeira melhora. Em 2009, 12% disseram não ter nenhum livro relacionado à escalada, caindo para 8,7%, em 2015. Daqueles que disseram ter mais de dez publicações saiu-se de 24% para 28,7%. Um aumento razoável. Ainda sim o maior número presente foi o de escaladores que tem entre um e cinco livros, com 36,6%, ante 43% de anteriormente. Números muito similares ocorrem quando falamos de livros lidos ao invés de livros comprados.

De qualquer maneira estes números estão bem acima da média nacional, o que indica um certo grau de "elitização" do esporte.

Sobre a escolaridade temos o seguinte quadro:

Em 2009 o quadro era:

Clip56

Vê-se pequena alteração do quadro: um indivíduo com ao menos a graduação completa (de 68% para 73,2%). Há de se considerar a questão da idade, ou seja, que dos 26,8% dos que não tem graduação isso se dá em virtude da pouca idade. Se somarmos aqueles que tem graduação incompleta tomando como verdade que são estudantes em vias de concluir o ensino superior o número de escaladores com essa formação (ou próximo disso) salta para 89,9%! Mas para termos essa certeza seria necessário um estudo mais aprofundado.


A área de estudo está bem diversificada, somente com exceção das geociências, que apesar de ser um mundo restrito dentro do universo acadêmico atinge 6,7% do público de escaladores, uma alta desproporcionabilidade.

Renda familiar:

No que diz respeito a renda familiar ficamos com o seguinte quadro:

Em 2009:

Clip58

Houve algumas alterações positivas neste quadro. Teoricamente podemos dizer que houve uma democratização econômica da escalada, mesmo com a manutenção do nível sócio-cultural. Por exemplo: em 2009, 52% dos escaladores/montanhistas recebiam oito ou mais salários mínimos por mês, tendo este número caído para 43,7%, em 2015. Ou seja, uma queda de quase 10% no contexto geral. 

Um outro bom exemplo disso é que 2009 somente 1% dos escaladores tinham renda de dois salários mínimos ou menos. Hoje são 4,2%. Ou seja, em números absolutos são quatro vezes mais escaladores nessa faixa de renda passados seis anos.

Entre dois e oito salários mínimos os números atuais indicam 52,1% dos escaladores, enquanto que em 2009 essa faixa intermediária era de 47%. Assim podemos deduzir que houve um deslocamento em bloco dos escaladores para uma faixa de renda mais baixa. Isso pode ser explicado por diversos motivos, como por exemplo o aumento constante no valor do salário mínimo ao longo dos últimos anos que achatou os salários de uma faixa mais adensada, entre outras coisas. O fato porém indica que houve uma democratização do esporte, do ponto de vista econômico.

Situação "amorosa":

Sobre a situação amorosa dos escaladores temos a seguinte situação:

Houve aqui uma grande inversão, pois em no censo anterior 62% se declararam solteiros, enquanto que no censo atual esse número não chega aos 50%. Isso é estranho pois a pergunta no formulário foi feita seguindo exatamente a mesma redação do formulário de 2009. Se não houver vício podemos então tirar a conclusão que passados seis anos os escaladores brasileiros acharam (maior parte) sua cara metade.

Situação em 2009:
Clip61


Lesão na escalada:

Como andam nossos escaladores quanto a sua saúde:


Se compararmos com os números de 2009 praticamente não houve alteração: em torno de 60% dizendo que já se lesionaram e 40% dizendo de que não. No meu entender de leigo esse número é muito elevado e indica uma direção óbvia: a escalada é um esporte de risco, e para aqueles que exercitam-se na escalada esportiva ou bouldering sobra as lesões decorrentes do excesso de esforço. 


A qualidade da escalada em livre:

Neste item temos a única diferença entre o censo do Davi Marski e o meu. Ele analisa a qualidade da escalada em dois momentos: passado e presente, fazendo linhas comparativas. Nesse contexto eu abandonei o estudo do passado dos escaladores e me concentrei no nível que os escaladores indicam como sendo o atual grau da escalada em livre, para então fazer um paralelo com a linha do "presente" de 2009, que agora nos serve como "passado" (não sei se entenderam). Ficamos assim:


No censo do Davi Marski:
Clip63

Algumas coisas interessantes: 

Em 2009, somente 16% disseram escalar 5º grau ou menos. Já neste ano subimos para 23,3%.

Em 2009, 27% dos escaladores/montanhistas indicaram escalar uma graduação entre 5º e 7º grau. Em 2015 esse número 40,6%. Ou seja, um número muito maior.

Em 2009, 24% (um quarto) afirmaram escalar ao menos vias de 7º grau. Já no último censo nesta faixa encontramos 18%.

Na faixa do 8º grau, o número incial era 21% (alto) e agora passou para 10,5%, um número que considero muito mais realista e preciso.

Acima disso (9º grau ou mais), tínhamos 12% e agora temos 7,6%. De fato uma elite.

Sinceramente a impressão que tenho é que os números atuais correspondem mais a realidade, contrariando aquela máxima que diz que com o passar do tempo os escaladores ficam melhores e mais fortes. Na verdade entendo que no censo do Marski houve um certo grau de distorção neste informação, e agora a informação está mais próxima do "centro da curva".


Sobre os clubes:

O que será que mudou no mundo do montanhismo/escalada quando falamos dos Clubes. Veja abaixo:


Nos números do Marski tínhamos praticamente um empate técnico: 49% participavam de clubes e 51%, não. Passados os anos as coisas mudaram, e para minha surpresa correram no sentido oposto ao esperado por muitos. Agora temos 54,4% dizendo que participam de algum clube de montanhismo/escalada, contra 45,6% dizendo que não. Ou seja, em 2015 os clubes continuam fortes. 

Aproveito para expressar aqui minha opinião dizendo sobre a importância dos clubes na formação dos escaladores/montanhistas, principalmente como elo de ligação para a atividade ao ar livre. Muitos que não estão em clubes vivem aprisionados em ginásios, quando através dos clubes poderiam facilmente serem apresentados para as montanhas. Assim acabam não indo, ou dependendo de amizades que nem sempre surgem. Vale dizer que os países que são celeiros de escaladores e montanhistas têm os clubes mais bem estruturados e antigos do mundo do montanhismo.


Modalidade de escalada do coração:

Que tipo de aventura gosta o escalador brasileiro? Veja abaixo!

Em números gerais temos (no formulário era permitido o múltiplo preenchimento):

Escalada indoor: 687 pessoas, com 64,4 %
Bouldering: 483 pessoas, com 45,3 %
Escalada esportiva: 831 pessoas, com 78,0 %
Tradicional (longas vias em livre, com peças móveis ou não): 797 pessoas, com 74,8 %
Artificial: 200 pessoas, com 18,8 %
Bigwall (longas vias, com pernoite em parede): 92 pessoas, com 8,6 %
Escalada alpina: 126 pessoas, com 11,8 %
Escalada de alta montanha: 198 pessoas, com 18,6 %

Era lógico que a escalada esportiva teria mais adeptos, mantendo-se a frente das demais. Aqui temos um ponto interessante e que vêm também no sentido de corrigir uma outra inconsistência. 

No censo de 2009 houveram mais pessoas apontando a escalada tradicional do que a esportiva como principal modalidade, o que sabemos ser irreal. Ainda sim a escalada tradicional vem bem próxima, com 797 escaladores marcando a opção. Alguns dados interessantes vêm com a escalada em bigwall, com incríveis 8,6%, um número que particularmente considero alto para esta modalidade e 18,6% para a escalada em alta montanha, número que considero também alto, em face da necessidade de deslocamento para fora do país. De qualquer maneira se cruzarmos este último dado com a informação de que 42,2% dos escaladores/montanhistas brasileiros já viajaram para outro país para escalar, podemos ver que a maior parte do escaladores viaja visando a escalada em terrenos mais baixos, e não para a escalada em alta montanha.

Bom, é isso.

Deixo aqui meu registro pelo apoio da CBME e federações na realização deste censo. Aproveito para convidar a todos a visitar os censos anteriores, assim poderão ver o excelente trabalho realizado ao longo dos tempos e as transformações ocorridas nas últimas décadas.

Abaixo os links:

O levantamento de 2009, feito pelo Davi Marski:


O levantamento de 1998, feito pelo Marcelo Sá:


e o levantamento do Victor Beal de 2005:

http://www.mundovertical.com/utilidades/censo05.htm

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