segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Escaladas em La Ola, Los Gigantes e Arenales, na Argentina. (Parte 2)

(Continuação da postagem de La Ola e Los Gigantes)

O refúgio.

Chegando em Mendoza, nos instalamos e corremos para comprar nossos suprimentos para Arenales e depois tomar uma cerveja. Mendoza é uma cidade interessante, pois está cravada em uma região desértica e é muito quente, um contrastre para a parte alta dos Andes. Ela é cidade-base para o Aconcagua, Cerro Plata e tantas outras montanhas sulamericanas.

Mendoza é quente, portanto requer um sistema de refrigeração mais apurado.

No dia posterior pegávamos nosso ônibus para Tunuyan, onde então pegaríamos uma camionete até o refúgio de Cajon de los Arenales, localizado aos 2.800m de altitude e que seria nossa morada pelas próximas duas semanas pelo menos.

Neste dia, como chegamos no refúgio pela tarde decidimos ficar tranquilos e organizar equipos e comida, tomando o cuidado com as famosas ratazanas que existem lá. Aos que quiserem ir, devem pendurar a comida nos ganchos protegidos. O refúgio em si é bem simples, tendo dois ambientes. O de baixo, de chão de terra é a área de convivência e cozinha e o andar superior de chão de tábuas e alguns colchões velhos é onde a rapaziada dorme. Aos finais de semana o refúgio enche de escaladores, sendo que a maior parte é proveniente de Mendoza, onde existe uma grande escola de formação de guias de montanha.

Nossa subida para o refúgio. Jaro, eslovaco que escalou com a gente. 

Nossa comida para quase 20 dias. 

Friends na bancada.

Lá as vias são todas com proteções móveis, sendo que você encontrará chapas ou pitons nos pontos de parada em em alguns locais específicos. De maneira geral a graduação não é difícil, sendo que escalamos vias de até F6b, em móvel. As vias são mais longas, sendo que a maior que fizemos foi na agulha "El Cohete", com 500 metros de parede.

Como estávamos nos Andes, passamos a estar submetidos às condições climáticas daquele lugar e com isso fomos obrigados a "ficar de molho" dois dias (12 e 13 de novembro) com as baixas temperaturas que nos pegavam (em torno de 0ºC e neve leve). Escalar em rocha com 0ºC e nevando é bem mais difícil do que simplesmente andar nestas condições.

No dia 14 teríamos nossa primeira oportunidade de escalar! Começamos leve, escolhendo como ponto de partida a via "El Zorro, F5+, 200m, Aguja Cara de Inca", via confusa que não recomendamos. A montanha é fácil de ser encontrada, estando no seu pé uma estátua de Jesus. A via segue ligeiramente ao lado direito dessa estátua. Seguimos depois para a via "Mujeres, Tequilas y otras Yerbas", F5+, 180m, Aguja Nuez. A via nada mais era que uma sequência de fendas que pareciam como uma escada gigante e estreita encostada na parede da Aguja Nuez, com uns dois pontos de passagem mais chatos e o resto curtição. Uma boa via de aclimatação. Ao término continuamos na via "Pilar y Cresta Noroeste", F5+, 180m, Aguja Alta Nuez, atingindo o cume e escalando uns 350-400m em sequência. O segundo trecho com menos passagens difíceis (na verdade somente um lance de F5+) e dando no cume da "Alta Nuez".

"Pilar y Cresta Noroeste", F5+, 180m, Aguja Nuez Alta.

No dia seguinte, em parceria com o eslovaco Jaro, que havia subido com a gente para o refúgio e estava sem parceiro, escalamos a via "Deja Ya de Joder", F6a+, 280m, Aguja Carlos Daniel, experimentando assim uma graduação um pouco mais forte. A via é muito bonita e cheia de lances mais técnicos que não tínhamos encontrado nas vias do dia anterior e a curtição foi muito legal!

No dia 16 descansamos e no dia 17 subimos com destino a Aguja Campanille Alto, para escalar a clássica "Armónica", F6a, 220m. O dia estava frio e o aquecimento na base da via começou com baforadas nas pontas dos dedos. A via possui uma sequência de fendas bonitas com graduação que varia entre o 5 e 5+, com exceção de uma linda fenda solitária que puxa o grau até F6a, mas a via não é difícil. O rapel é feito pela esquerda da via e deve-se tomar cuidado com as recuperações de corda por conta dos platôs.

 "Deja Ya de Joder", F6a+, 280m, Aguja Carlos Daniel.

"Deja Ya de Joder", F6a+, 280m, Aguja Carlos Daniel.

Cume da Aguja Carlos Daniel. Jaro, Tacio e eu.

Tacio guiando a primeira enfiada da "Armónica", F6a, 220m, Aguja Campanille Alto.

No dia 18, decidimos descer até a "Muralla Central" para escalar a bonita via "Patricia", F6a+, 200m. Uma via que começa forte, com um 6a+, com uma longa travessia até uma canaleta por onde a via sobe até o grande platô superior da Muralha. São mais umas duas enfiadas em F6a. Na segunda ou terceira enfiada tinha um pequeno friend entalado. A via vale a pena, pois é bem legal, com lances não tão fortes porém mais técnicos.

Após um novo intervalo provocado por mal tempo voltamos a escalar. Desta vez escolhemos a Aguja Charles Webis e a via foi a "Ya te Guaveriga", F6b, 230m. A via muito interessante, principalmente a primeira enfiada. Uma enfiada longa, com mais de 50m e quase toda em F6b, depois a graduação cai com alguns trechos de F6a e F6a+. O final cai para um F5 bastante sujo, porém o cume vale a pena. O cume da Charles Webis é o mais alto da região e por isso mesmo muito atrativo. Não me recordo precisamente, mas creio que o cume está há 3.600m, aproximadamente.

"Ya te Guaveriga", F6b, 230m, Aguja Charles Webis.

 Visual andino.

Cajón.

Tacio com a Aguja Charles Webis ao fundo.

Tacio guiando na "Ya te Guaveriga", F6b, 230m, Aguja Charles Webis.

Tacio guiando na "Ya te Guaveriga", F6b, 230m, Aguja Charles Webis.

 
Eu e o Tacio no cume da Charles Webis.

O francês Martial Dessay escalando a bonita fenda frontal da "Armónica" na Aguja Campanille Alto.

Visão da base da via "Ya te Guaveriga", F6b, 230m, Aguja Charles Webis.

Já no fim da viagem pudemos escalar as duas vias mais longas:

"Mejor no hablar de ciertas cosas", F6b, 500m, Aguja El Cohete. Linda via, sendo que sua primeira metade é uma grande canaleta fácil e grampeada (grampos distantes), sem fendas para proteger. A segunda metade é mais bonita recheada de fendas e fissuras, com graduação constante, são umas duas enfiadas em F6a, umas duas em F6a+ e uma em F6b. Algumas em F5+ e outras em F5. O cume é muito bonito e a via realmente deslumbrante. Recomendo a todos!

Uma dica para quem pensa em ir para lá é comprar o guia da região em Mendoza, no Club Andino de Mendoza. Apesar de meio salgado. Pagamos uns 150 pesos (em 2011) vale a pena, pois traz todas as vias e algumas informações interessantes.

A última via clássica que escalamos foi a "Il Patagonico", F6a, 460m, Aguja Casimiro Ferrari. Uma escalada que assim como o nome lembra a escalada de aventura que pode ser encontrada na patagônia. A via em si não é difícil, porém exige orientação pois são diversas quebradas na parede e a via é pouco frequentada. No cume achamos o livro de registro e nossa ascensão foi a única durante os nove anos anteriores.

No cume da via "Il Patagonico", F6a, 460m, Aguja Casimiro Ferrari.

Começando os rapéis na Aguja El Cohete.

Escalando a via "Mejor no hablar de ciertas cosas", F6b, 500m, Aguja El Cohete.

Rapel na via "Mejor no hablar de ciertas cosas", F6b, 500m, Aguja El Cohete.


Rapel na via "Mejor no hablar de ciertas cosas", F6b, 500m, Aguja El Cohete.

Eu e o Tacio no cume da Aguja Casimiro Ferrari. 

Visual andino.

Por fim acabamos por tirar um dia para escalar um pouco de esportiva na "Pared de la Mitria", onde escalamos as seguintes vias (vias com o asterisco foram guiadas):

Historietas, F6a; *
Running, F6b+; *
Bolzano, F5+; * e
Striptease, F6a+. *

Assim retornávamos para o Brasil em 27 de novembro após quase um mês de viagem com 48 vias escaladas em diversos pontos e em diversos estilos.

Caso algum escalador tenha interesse em outras informações basta me contactar!

Grande abraço a todos!

PARTE DAS FOTOS SÃO DE AUTORIA DO TACIO PHILIP (www.tacio.com.br).

Tempo nem sempre colaborando.

Um pouco de macrofotografia que aprendi com o Tacio.

Um pouco de macrofotografia que aprendi com o Tacio.


Refúgio!

Os pés depois de um mês de escaladas!

Nenhum comentário: