quarta-feira, 30 de julho de 2014

Conhecendo a Antártica e o Programa Antártico Brasileiro!

Eu, de fronte à EACF.


Fala pessoal,

Estou de volta no blog para falar um pouquinho da minha experiência no Programa Antártico Brasileiro e no continente gelado, a Antártica.

Como alguns amigos sabem, anualmente são desenvolvidas pesquisas na Antártica, pesquisas estas conduzidas com o apoio incondicional da Marinha do Brasil que desde 1982 vêm gerenciando o Programa Antártico Brasileiro, com muita maestria.



Desde o início do programa até os dias de hoje a Marinha trabalha conjuntamente com o CAP (Clube Alpino Paulista), que fornece mão-de-obra para auxiliar estes pesquisadores na montagem dos acampamentos e também nos deslocamentos em áreas inseguras, contando os pesquisadores com a valiosa experiência de montanha de alguns dos melhores alpinistas brasileiros.

Tal parceria mostrou-se bem sucedida, uma vez que passadas três décadas não se têm registro de acidentes graves envolvendo pesquisadores, por conta do terreno ou do clima arredio do continente.

Como membro do CAP sempre tive interesse em participar deste programa, uma vez que não é fácil conhecer a Antártica e segundo que seria uma boa oportunidade de conhecer o trabalho dos cientistas e marinheiros do nosso país.

Diante disso, em 2011, no segundo semestre me candidatei a participar do PROANTAR (Programa Antártico) sendo que por nunca ter ido estaria concorrendo a uma das vagas destinadas aos novatos, que neste caso, ficam na Estação Antártica Comandante Ferraz, afim de prover a Estação de suporte técnico para trabalhos em altura, com cordas e para deslocamentos em regiões inseguras, seja pela presença de glaciares ou pela presença de terrenos montanhosos.

Após um difícil processo seletivo no CAP, com apresentação de currículo de escalada, cursos, preparo emocional, entre outros fatores recebi a notícia que havia sido selecionado. Uma grande felicidade!

Diante disso fui enviado para realizar o chamado TPA, ou Treinamento Pré-Antártico, que nada mais é que um curso realizado no Centro de Adestramento da Ilha da Marambaia, no litoral do estado do Rio de Janeiro. O curso que é feito em um período de aproximadamente uma semana, ou pouca coisa maior que isso, visa inserir os cientistas e militares da Marinha do Brasil no universo do PROANTAR, com diversas palestras e treinamentos práticos, que envolvem desde rádio até a montagem das barracas que são utilizadas no continente gelado. Nessa fase os alpinistas do CAP, que oram figuram na posição de alunos passam também à condição de instrutores.

Após o término do TPA retornei as minhas atividades normais em São Paulo para então, no início de 2012 embarcar para o verdadeiro fim do mundo.

Chegando na Marambaia.

Palestras do TPA.

Instruções práticas com helicópteros.

Instruções práticas com helicópteros.

Nelson Barretta dando instrução de montagem e manuseio das barracas.

Luis Eduardo Consiglio dando instrução de Comunicação. 

Pessoal do CAP que participou do TPA-2011.

Retorno pra casa.

Sendo assim, no início do mês de fevereiro de 2012 me desloquei à cidade do Rio de Janeiro onde dormi uma noite em um albergue na cidade e até aproveitando para escalar com meu amigão David Henrique o Pão de Açúcar, pela via Costão. No dia seguinte nos dirigimos à base aérea do Galeão, onde embarcaríamos para o Rio Grande do Sul, utilizando um avião C-130 Hércules, da Força Aérea Brasileira. O conhecido "gordão" (apelido carinhoso que o pessoal da FAB atribuiu ao Hércules) é um avião pouco confortável porém muito parrudo, excelente para a missão que nos aguardava.

Após uma noite em Rio Grande onde recebemos nosso material, partimos para a cidade de Punta Arenas (Chile), cidade-base de onde partem o vôos do PROANTAR para a Antártica. A cidade de Punta Arenas é uma pequena e charmosa cidade, onde existem boas opções de restaurantes e lojas de material de escalada, por um preço bem mais justo que no Brasil. Ficamos lá dois dias, partindo então para a base chilena na Antártica. Vale aqui ressaltar que a Estação Antártica Comandante Ferraz não dispões de pista de pouso para aviões, tão somente um heliporto. Por essa razão o C-130 desce na Estação Chilena.

Uma vez no solo antártico, já experimentando o frio de lá, esperamos o Navio Polar Almirante Maximiano, pertencente à Marinha do Brasil para que pudesse nos buscar e nos conduzir a nossa Estação. Ele não demorou muito e após o embarque iniciamos nosso deslocamos marítimo, algo que durou uma madrugada toda.

No outro dia de manhã chegávamos na Estação Antártica, sendo recebidos pelo comandante.

Como muitos sabem, a EACF (Estação Antártica Comandante Ferraz) nesta mesma temporada em que eu me encontrava acabou por ser quase inteiramente destruída por um incêndio, mas acho que vale a pena dizer sobre o que encontrei por lá.

A EACF original era composta pela aglutinação de diversos contêineres ou algo similar a isso, com um bom sistema de aquecimento interno e com ampla estrutura de lazer, como por exemplo internet wi-fi, globo internacional, telefone local para o Rio de Janeiro, farta estrutura alimentar, sala de musculação, entre outras coisas. O chamado Grupo-Base que é o grupo de marinheiros que permanece por lá por todo o ano é composto por quase 20 pessoas, sendo 4 oficiais e o restante sendo sargentos ou suboficiais.

Durante o tempo que os cientistas ficam lá (verão) a EACF tem um acréscimo grande do seu efetivo, chegando a casa das 60 pessoas, sendo que todos ajudam nas tarefas diuturnas da Estação, tais como limpeza e cozinha. O clima é sempre muito bom.

Lá ainda existe um departamento de material de alpinismo, que geralmente é organizado pelo alpinista que está na Estação.

Durante minha estadia na Estação pude auxiliar em diversos aspectos, tais como na instalação de sensores e na coleta de dados em torres metálicas, geralmente instalados em local elevado, sendo que para que o serviço seja feito de maneira segura é necessário um trabalho com cordas. Além disso auxiliei alguns projetos na localização de ninhos de pássaros em falésias, bem como no lazer das pessoas, conduzindo grupos até o topo do chamado "Morro da Cruz". Tive oportunidade de conhecer por terra toda a península Keller que é o local onde está instalada a EACF e também conhecer alguns outros pontos, tendo um contato direto com a vida animal antártica, seja com focas, com elefantes-marinhos, com lobos-marinhos, pinguins e com uma diversidade de pássaros.

Faltando em torno de 10 dias para meu regresso, infelizmente a EACF foi tomada por um incêndio que não só destruiu grande parte de sua estrutura física como também levou a vida de dois integrante da Marinha do Brasil, que tombaram no combate ao incêndio e que rendo minhas homenagens: Suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo e 1º Sargento Roberto Lopes dos Santo.

Diante desse fato a EACF acabou por ter boa parte do seu efetivo retirado para a Estação Chilena, sendo que de lá voamos para Punta Arenas, com o apoio da Força Aérea Argentina (voltamos pra Punta Arenas voando em um Hércules da FAA) e de lá, após dois dias estávamos chegando no Rio de Janeiro.

Foram quase 30 dias apoiando o PROANTAR, período no qual tive a oportunidade de conhecer pessoas totalmente dedicadas à causa pública e também tive a oportunidade de vivenciar fatos que irei carregar para sempre comigo, fatos que vão desde a beleza da natureza até atos de heroísmo, que me faz acreditar que o Brasil é formado por pessoas dignas e interessadas no país.

Muitas dessas experiências com certeza irão corroborar para a formação do meu caráter e isso é um tesouro preciosíssimo. Espero que no futuro possa voltar a participar do Programa Antártico, ainda que não saiba quando minha vida pessoal o permita, mas vamos ver.

Grande abraço a todos!

Chegando em Punta Arenas. Ida.

Painel do C-130 Hércules.

Chegada na Estação Chilena.

Clima Antártico. Na foto o módulo de Química da EACF.

Trabalhos na EACF.


No topo do Morro da Cruz.

Mais trabalhos em auxílio do pesquisadores na EACF.

Auxiliando um projeto da USP na Antártica.





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